top of page
  • amigosdabolaecia

FOLCLORE POLÍTICO

Atualizado: 17 de jul.

CAUSOS POLÍTICOS QUE, COM CERTEZA, VOCÊ VAI SE INTERESSAR, SOBRETUDO EM SE TRATANDO DE SEBASTIÃO NERY. RELATOS PITORESCOS DE VÁRIOS ESTADOS QUE MUITAS VEZES DITARAM O DESTINO DO BRASIL.


 

CIDADE DE MUNDO NOVO (BA)


BAHIA – Coronel José Nunes, chefe político de Mundo Novo, na Bahia, foi a Salvador fazer exame médico. No fim da consulta, o clínico mandou que ele voltasse no dia seguinte:

- O senhor ainda precisa ser examinado pela minha equipe.

Coronel José Nunes saiu, encontrou-se com Renato Vaz Sampaio, secretário do governo:

- Como foi sua consulta, coronel?

- Tenho que voltar lá amanhã para ser examinado por uma tal de equipe. Está tudo muito mudado. Antigamente, o nome era quadrilha. Agora é equipe.


 


RIO DE JANEIRO – Dia das Mães. A Câmara de Vereadores do antigo Distrito Federal, engalanada, realiza sessão a requerimento do vereador Frederico Trota, do PTB. O vereador Índio Brasil, em nome do PSP, foi saudar as mães convidadas que lotavam o plenário, e começou o seu discurso:

- Ninguém mais indicado para ser mãe do que a mulher.

 

RIO DE JANEIRO – Índio do Brasil estava na tribuna defendendo os agricultores da periferia da cidade:

- Em Campo Grande, senhor presidente, a agricultura está se acabando. É só ir lá para ver. Desaparece tudo: laranjeiras, bananeiras, e outros bens de raiz.

 

RIO DE JANEIRO – No Dia das Enfermeiras, em meio ao discurso, Índio do Brasil olhou para o plenário e galerias lotados pelas homenageadas, todas em seus uniformes brancos:

- Senhor presidente, eu sou médico e posso atestar. Conheço bem o trabalho dessas abnegadas. Elas fazem maravilhas embaixo dos lençóis.


 


TENÓRIO CAVALCANTI


RIO DE JANEIRO – Tenório Cavalcanti estava na tribuna da Câmara Federal:

- O Brasil precisa cultuar melhor seus heróis, há muitos heróis esquecidos, que é necessário manter vivos diante da nacionalidade. João Fernandes Vieira, por exemplo, morto na guerra do Paraguai.

Gerardo Mello Mourão pede um aparte:

- Deputado Tenório, há um engano. João Fernandes Vieira é herói de guerra contra os holandeses. Ele não esteve na guerra do Paraguai.

- Estava em espírito, deputado Gerardo Mello Mourão.

E foi em frente.


 


JOSÉ LINS DO RÊGO


PARAÍBA – José Lins do Rêgo, romancista e torcedor fanático, resolveu promover em João Pessoa um Campeonato de Futebol Amador para homenagear José Américo, governador. O campeonato foi indo, a Paraíba fazendo figura. A cidade explodia de feliz.

Chegou a partida final: Bahia x Paraíba. O filho do governador, José Américo Filho, chamou o juiz, tenente Lira, da Polícia Militar do Estado:

- Lira, você sabe, meu pai não pode perder. Este campeonato é uma homenagem a ele e temos que ganhar de qualquer jeito. Se a Paraíba ganhar, você vai a capitão. Se perde, adeus farda.

Começou o jogo, a Bahia apertando, apertando. As arquibancadas urravam:

- Paraíba! Paraíba!

Lira olhava, levantava a mão e pedia calma. Marcava tudo, perseguia os baianos, protegia os paraibanos. E o jogo irritantemente zero a zero. Perdeu a paciência, marcou pênalti contra a Bahia. Não havia pênalti nenhum, mas marcou. As arquibancadas berravam enlouquecidas. Bitota, artilheiro da Paraíba, chutou. O goleiro da Bahia pegou. Lira gritou:

- Nulo. Chuta de novo. O goleiro se moveu.

- Não me movi não, seu juiz.

Lira deu três passos, chegou bem junto do goleiro e rosnou no ouvido dele:

- Fica calado aí, negro, que eu mando te arrebentar. Já viu goleiro pegar pênalti?

Virou capitão.


 

JUAREZ TÁVORA


PARAÍBA – Na seca de 32, ministro de Vargas, José Américo correu o Nordeste com trens de gêneros alimentícios. Chegou a Ipu, no Ceará, com Juarez Távora, então coronel. O prefeito não tinha como homenagear os dois, chamou um cantador de feira para tirar versos. O homem os viu em roupas simples, barba grande, sem farda e sem gravata, mandou sem cantar:

- “Não gosto de ver diploma/Não gosto de ver ané/Pois todo cabra safado/É doutor ou coroné.

José Américo até hoje ri do susto de Juarez Távora.


 


LIMOEIRO (PE)


PERNAMBUCO – Dia de festa em Limoeiro. O time da cidade ia jogar com o escrete de Garanhuns, disputando o primeiro lugar no Campeonato Intermunicipal. Coronel Heráclio chegou todo de branco, sentou na cadeira de vime, a partida começou.

Primeiro tempo, segundo tempo, nada. Zero a zero. Cinco minutos para acabar o jogo, o juiz, que tinha ido do Recife, marca pênalti contra Limoeiro. A torcida endoidou, invadiu o campo. O juiz corre para junto do coronel Heráclio com medo de ser linchado. O coronel levanta a bengala, todo mundo para:

- O que é que houve, seu juiz?

- Um pênalti que eu marquei, coronel.

- O que é esse negócio de pênalti?

- É quando o jogador comete uma falta dentro de sua própria área.

- E o que é que acontece?

- Ah, coronel, aí a bola fica ali naquela marca, em frente à trave e um jogador adversário chuta. Só ele e o goleiro.

- E faz o gol, seu juiz?

- Geralmente faz, coronel. É difícil goleiro pegar pênalti.

- Muito bem, seu juiz. Sua explicação é muito boa. E eu não vou tirar sua autoridade. Já que houve o tal de pênalti, faça como a regra do futebol manda. Só que o senhor, em vez de botar a bola na frente da trave de Limoeiro, faça o favor de botar do outro lado e mandar um jogador daqui da cidade chutar.

- Mas, coronel, isso é contra a lei.

- Pois já ficou a favor. Aqui em Limoeiro a lei sou eu.

Limoeiro ganhou.


 


ARGEMIRO FIGUEIREDO


RIO GRANDE DO SUL – Argemiro Figueiredo, interventor da Paraíba, veio ao Rio com o secretário Celso Mariz, poeta, escritor e amigo. Foram a Getúlio conversar sobre os problemas do Estado e procurar forças para enfrentar Epitacinho (Epitácio Pessoa de Albuquerque, filho de João Pessoa) que estava lutando para derrubar Argemiro.

No fim da conversa, Getúlio convida:

- Governador, fique para almoçarmos.

- Está bem, presidente.

Celso Mariz, alienado demais para secretário de interventor, interrompe?

- Doutor Argemiro, lembre-se que o senhor tem um compromisso de almoço com o Frutuoso Dantas.

Argemiro pensou, hesitou. Getúlio levantou-se, estendeu a mão, despediu-se:

- Está bem, governador. Outro dia almoçaremos.

Não houve outro dia. Naquela tarde, Argemiro Figueiredo foi demitido.


 


GUANABARA – Campanha de Jânio Quadros. Cada discurso era a análise de um problema: petróleo, política externa, reforma agrária, política financeira. Lacerda telefona:

- Os pronunciamentos estão muito bons, mas para presidente eleito.

- O que é que está faltando?

- Feijão. Falta feijão. Feijão é que elege candidato. Petróleo consolida. Ponha feijão na sua campanha.

Jânio pôs. Seis milhões de votos.


 



GOIÁS - Pedro Ludovico (FOTO), patriarca de Goiás, avô de Brasília e pai de Goiânia e do ex-governador Mauro Borges, magoado das injustiças de 64 foi à Europa.

O jornalista Benedito Coutinho o esperou de volta no aeroporto:

-Senador, o que é que o senhor achou de Roma, de Londres, de Paris?

-Que toda mulher boa do mundo tem dono, meu filho.


 



GOIÁS - Anísio Rocha (FOTO), rapaz modesto e competente que Goiás importou da Bahia, eleito deputado federal foi convidado para o banquete da posse de Juscelino Kubitscheck no Itamarati. Traje: casaca e condecorações.

Casaca ele mandou fazer. Condecorações não tinha. Tinha voto, mas voto é coisa de povo e banquete de povo é sereno. Foi ao marechal Dutra, pediu condecorações emprestadas. Dutra, bom amigo, mandou escolher.

Quando entrou no Itamarati, virou a vedete da noite. Ostentava, garboso, uma cruz suástica e imensa águia nazista.


 




RIO GRANDE DO NORTE - Cortez Pereira (FOTO), governador, disse, diante de milhares de pessoas, no seu primeiro comício em Natal:

-Ontem minha filha me perguntou: - Como é que eu vou chamar o senhor: papai ou governador? E eu respondi: - Continue a me chamar de papai, porque você vai ter muitos irmãos, pois eu vou ser o papai do povo.

Foi o padrasto.


 




BAHIA – Domingos, filósofo de Jaguaquara:

-Falar não sei, mas sei dizer;

-Oposição e sapato branco só é bonito nos outros;

-Sabedoria, quando é demais, vira bicho e come o dono;

-Candidato é como puta: se não ficar na janela, marinheiro não vê.



 




MINAS GERAIS – José Maria Alckmim (FOTO), filósofo de Bocaiúva:

-Povo é muito bom visto do palanque;

-Bom não é ser governo. É ser amigo do governo.

-O Etelvino está querendo botar o AI-5 dentro da Constituição. Eu nunca vi passarinho engolir cobra.


 




AMAZONAS - O avô do deputado Leopoldo Perez (FOTO) foi líder republicano no final da monarquia. Preso, estava lá mofando, quando ouviu, uma manhã, a multidão gritando nas ruas, invadindo a cadeia. Chamou o carcereiro:

-O que é que há? Vão me linchar? Tire-me daqui logo. Deve ser essa monarquia apodrecida querendo vingar-se mais uma vez de mim.

Não era. Dali mesmo foi levado em triunfo para o governo do Estado. A República tinha sido proclamada 45 dias antes. E a notícia só chegara naquela manhã. De canoa.


 





MINAS GERAIS – Benedito Valadares (FOTO), filósofo de Pará de Minas:

-Lá em Minas reflorestamento a gente faz com eucalipto, porque em dez anos já é uma árvore secular;

-Conversa de mais de dois é comício;

-Reunião, só depois do assunto resolvido.


 




OSÉAS CARDOSO


ALAGOAS – Oséas Cardoso, deputado, fez fama de valente. Tranquilo e educado como um cônego em férias, ninguém diria que fosse capaz de pegar em um canivete. No entanto, em suas mãos já repicaram metralhadoras. Durante anos tentaram riscá-lo do mapa político do Estado. À bala jamais conseguiram. Tiveram de usar da caneta, em 64.

Foi fazer comício em Palmeira dos Índios, terra de Graciliano Ramos e da família Mendes, inimiga de morte de Oséas. A cidade ficou esperando o comício para ver de que lado ia começar o tiroteio.Quando subiu ao palanque, havia um silêncio de mandacaru. Todo mundo duro, espiando. Lá em cima, só ele. Ninguém queria jogar a vida por um microfone e alguns votos. Menos Sebastião Baiano, mulato discursador. Ficou indignado, subiu, pediu a palavra:

- Minha gente, é um absurdo que venha um homem ilustre a esta cidade ninguém suba aqui para saudá-lo. Por isso, vim dizer ao doutor Oséas que esta é uma cidade civilizada e nós vamos ouvi-lo. E você precisam saber que o doutor Oséas tem, no nome, todas as virtudes de um grande cidadão: tem o O da honestidade, o S do civismo, o E da inteligência, o A da harmonia e de novo o S da civilização.

Naquela noite não houve bala em Palmeira dos Índios.


 


REPENTISTAS


ALAGOAS – Era aniversário de um bravo coronel de polícia de Palmeira dos Índios. Contrataram dois cantores para animar a festa. Os homens chegaram, violas em punho:

- Coronel, vamos cantar a sua vida.

- Nada disso, cantador de verdade não se prepara, improvisa. Vou dar um mote, vocês cantam. E nada de minha vida. Quem vai ser cantado, hoje, é Jesus Cristo. E o mote é: “Jesus Cristo veio ao mundo/Nos livrá das injustiça”.

Um cantador olhou para o outro, cada qual mais branco. O coronel estava nervoso. O jeito era começar. Um tirou:

- Jesus Cristo veio ao mundo/Nos livrá das injustiça”.

O outro respondeu:

- Quando ele tinha 15 anos/Rezou a primeira missa.

O primeiro engasgou. E foi em frente:

- Quando completou 18/Sentou praça na poliça.

O coronel meteu os dois no xadrez.



 


RIO GRANDE DO NORTE – Lampião passou por Mossoró, teve um choque com as tropas do Exército. Na cidade, ferido, ficou um cabo com seu fuzil.

Aparece uma onça e começa a comer os bezerros da região. O prefeito foi ao cabo, já recuperado:

- Precisamos de sua ajuda. A onça está fazendo muito estrago nas criações. Só um fuzil para matar.

- Pois não, prefeito. Essa onça morre já.

- Ótimo, porque ela já matou dois caçadores.

- Como?

- Matou dois que tentaram derrubá-la de espingarda. O cabo ficou pensando, olhando para cima:

- Bem, seu prefeito. Só tem um problema. Eu sou do Exército Brasileiro. Sou federal. Precisa saber primeiro se essa onça é federal ou estadual. Não quero conflito entre os dois governos.

E a onça municipal continuou a comer os bezerros.




 




APARÍCIO TORELLY


RIO GRANDE DO SUL – Aparício Torelly, o Barão de Itararé, mestre e glória do humorismo brasileiro, saiu do colégio dos jesuítas, em sua cidade natal (São Leopoldo do Sul, onde ainda estudante, fundou o jornal manuscrito O Capim Seco) para vir satirizar a ditadura no Rio de Janeiro. Em 38, estava diante dos juízes do Tribunal de Segurança.

- O senhor sabe por que está preso?

- Sei sim. Porque desobedeci a minha mãe.

- Não entendi.

- Muito simples, doutor juiz. Eu sempre gostei muito de café. Minha mãe reclamava: - Meu filho, não tome tanto café que um dia você vai se dar mal. Eu desobedeci e continuei tomando café. No mês passado, estava eu com alguns amigos tomando um cafezinho na Galeria Cruzeiro, chegaram os homens da polícia e me levaram. Minha mãe tinha razão: - eu ainda ia me dar mal por causa de café. E me dei.

O interrogatório foi encerrado.



 



COSTA E SILVA


SÃO PAULO – O presidente Costa e Silva chegou a São Paulo, deu entrevista coletiva. Milton Parron, da Rádio Panamericana, depois de algumas perguntas, saudou o presidente:

- A joven Pan deseja a V. Exa. feliz estada em São Paulo e uma boa viagem.

E o presidente:

- Meu filho, quem é essa jovem?

 




PEDRO SANTOS


MINAS GERAIS - Montes Claros, norte de Minas, elegeu prefeito, pela ARENA, o homem mais rico da cidade: Pedro Santos, médico.

Doutor Pedro inaugurou uma praça e ficou com medo de a turma estragar o jardim. Pôs placa:

-Proibido pisar na grama. Quem não souber ler, favor perguntar ao guarda.





BENEDITO VALADARES



MINAS GERAIS - Saiu o livro de Benedito Valadares - A Lua Cai. Ciro dos Anjos, secretário particular, o procura:

-A lua não cai, governador. A lua sai.

-Ah, Ciro, quem é que pode com esses revisores? Eles sempre comem as cedilhas.





BARREIRAS (BA)



BAHIA - José de Almeida, contador do Banco do Brasil em Barreiras, realizava o cadastro da agência. Chega Heroino Pita, fazendeiro da região. Foi respondendo ao longo formulário: nome, idade, propriedades, renda anual, dívidas, etc.

- Senhor Heroino, quantos filhos o senhor tem?

- 8 filhos.

- O senhor tem uma prole grande.

Heroino sorriu, fez um gesto:

- Não, senhor. É normal.



JOSÉ AMÉRICO


PARAÍBA – Em 1930, José Américo era secretário do interior do governo João Pessoa. Preparando-se para a Revolução, resolveu reforçar a Polícia Militar e encarregou o major Benício de ir ao interior selecionar algumas centenas de homens.

O major ficou impressionado como índice de tuberculose e explicou a José Américo as dificuldades que estava tendo:

- Os homens são valentes, dispostos, mas há muitos tuberculosos. A maioria não serve.

- Não servem por que, major? Vamos precisar deles por pouco tempo.

- Não servem para emboscadas, dr. José Américo.

- Por quê?

- Por causa da tosse.



GOVERNADOR NEGRÃO DE LIMA (RJ)


RIO DE JANEIRO - No bar de Ipanema, os rapazes bebiam e papeavam. Um deles começou a desancar o Negrão:

- O mal do Brasil é esse Negrão. Vocês vão ver, vamos nos enterrar por causa dele. Não tem mais jeito. O Negrão está velho, cansado, preguiçoso. Não é mais aquele. Por que insistir nele? O negócio era tirar e mandar descansar. Tem muita gente melhor para o lugar do Negrão.

Do lado, o policial ouvia e esperava. Quando o garoto parou para tomar fôlego, estava seguro:

- Vamos, está preso, seu subversivo.

- Subversivo por quê?

- Está aí pregando a derrubada do governador.

- O senhor está é maluco. Será que neste país a gente não pode mais falar mal nem do Pelé?




SÃO JOÃO DE MERITI (RJ)



RIO DE JANEIRO - O deputado Jorge Bedran (MDB) foi candidato a prefeito de São João de Meriti. O slogan era: - Fora com os ladrões.

Um amigo foi à casa dele:

-Jorge, assim você não vai ganhar.

-Por quê?

-Porque, de cada mil eleitores, 700 roubam.

-Fico com os 300.

- Não fica. De cada 300, 250 não roubam porque não têm coragem.

-Fico com os 50.

-Não fica. De cada 50, 25 só estão esperando uma chance. Manda os 25 à merda e fica com os 975.

Não mandou, não se elegeu.





JARBAS PASSARINHO (PA)


PARÁ – Maria Barreto Duarte, vereadora mais votada à Câmara Municipal de Belém pela legenda da Arena, fugiu de casa para viver com Adolfo Monteiro Filho, o menos votado da legenda do MDB (425 votos, incluindo o dele e o dela).

O episódio escandalizou Belém, deu manchetes nos jornais e, muito particularmente, traumatizou a Arena do senador Jarbas Passarinho. No partido, pediram medidas punitivas, mas o cordão do bom senso lembrou que a fidelidade dela tinha que ser partidária e não sexual.

De qualquer forma, foi consultado o advogado Octávio Meira, que achou não ter havido infidelidade partidária, pois que a vereadora não abandonou a Arena para entrar no MDB. Na verdade, o MDB é que se enfiou na Arena. O caso dela foi apenas de sublegenda conjugal, pois que Adolfo é casado.

Guaracy de Brito, o papa do colunismo paraense, reagiu violentamente à ideia de cassação do mandato de Maria:

- Cassá-la nunca, temos é que casá-la.

Seja como for, foi mais um caso em que o MDB, aparentemente impotente, comeu a Arena.





SEIXAS DÓRIA (SE)



SERGIPE - Fernando Leite, filho do senador Júlio Leite, era presidente da Assembleia Legislativa quando Seixas Dória era governador. Seixas teve que vir ao Rio, o vice-governador Celso Carvalho estava no Rio Grande do Norte assistindo ao enterro da sogra, assumiu o governo o presidente da Assembleia. Por dois dias, Fernando Leite mandou telegramas a todas as embaixadas comunicando ao mundo sua governança. E, orgulhoso, como bom filho, telegrafou à mãe, internada e gravemente enferma em um hospital do Rio:

-Mamãe, pode morrer tranquila. Seu filho é governador. Beijos, Fernando.





ULYSSES GUIMARÃES (SP)


Ulysses Guimarães, filósofo da oposição, traçando a estratégia da escalada do MDB em 1974, 76 e 78:


  • No alto do morro estavam dois touros. O touro velho e o touro novo. Viram lá embaixo o pasto cheio de vacas. O touro novo ficou aflito:

-Vamos descer depressa e pegar umas dez.

O velho touro balançou a cabeça:

-Nada disso. Vamos descer devagar e pegar todas.


  • Deus manda lutar, não mandar vencer.

  • O destino do MDB não é a oposição. O destino do MDB é o poder.

  • 1974 não foi uma tempestade. Foi uma tromba d'água.

  • Muitos dos atuais governadores são arrivistas, deslumbrados, Alices no país das maravilhas. Amadores, não são do ramo. Tocadores de flauta política, podem mais do que sabem.

  • O MDB vinha de trem. Agora tomamos o avião.

  • O Brasil precisa é de um projeto político que comece por batizar: se é uma democracia, então vamos ter uma democracia!

  • Navegar é preciso. Viver não é preciso.



ABDO NAJAR (SP)


Abdo Najar era candidato a prefeito de Americana, perto de Campinas. A oposição dizia que ele não podia ser prefeito porque era semianalfabeto, burro demais. Najar foi para a rádio de Americana, com seu carregado sotaque de sírio:

Dizem que Najar não pode ser prefeito porque Najar é burro demais. Mas Najar veio para o Brasil sem nada há 18 anos, e hoje Najar tem 12 indústrias de tecido, Najar tem 15 fazendas, Najar tem mais de 30 imóveis em Americana e Campinas, esta estação de rádio que está irradiando o discurso de Najar é de Najar, o jornal que vai publicar o discurso de Najar amanhã também é de Najar. Najar sendo burro, tem tudo isso. Imagina só se Najar fosse inteligente.





CORONEL MARCONDES ALVES DE SOUZA (ES)


O coronel Marcondes Alves de Souza era homem de poucas luzes e muito pudor, como convinha a um coronel da Guarda Nacional. Eleito governador, chegou á escada do Palácio, construída pelos jesuítas e onde está enterrado Anchieta. Viu a bela escadaria, ornada de helênicas esculturas de mármore, ligando a cidade baixa à cidade alta. Mandou chamar o secretário de Obras:

Providencia para limpar a escadaria dessa sem-vergonhice de mulheres nuas.

- Mas, governador, isso significa tirar a estética da escadaria.

- E quem mandou tirar a estética? Tira as estátuas e deixa a estética!




MARECHAL EURICO GASPAR DUTRA (MT)


Um ministro promoveu concurso. Deixou no Catete dois decretos nomeando o 2 e o 5 colocados. No dia seguinte, foi despachar com Dutra.

-Ministro, não assinei os decretos.

-Por que, presidente?

-Porque vão ser nomeados os que tiraram 1 e 2 lugares.

-Mas, presidente, não há lei que mande nomear o 1 e o 2 colocados.

-Há, sim, ministro. A moral. A moral é uma lei.

E nomeou o 1 e o 2.




ÚLTIMO DE CAVALHO (MG)


Oscar Correia, da UDN, discutia na Câmara Federal com Último de Carvalho, do PSD, manhoso mineiro educado nas sábias lições de coronelismo. Oscar Correia exigia definições. Último de Carvalho enrolava. Oscar, irritou-se:

-V . Excia. não se define nunca. Fica dando uma no cravo e outra na ferradura.

- Também pudera! V. Excia. não fica com o pé quieto...









LADRÕES, LADRÕES, CAMBADA DE LADRÕES!!!


PARAÍBA - Cabralzinho, líder estudantil em Campina Grande, foi passear em Sobral, no Ceará. Chegou em dia de comício. No palanque, longos cabelos brancos ao vento, o deputado Crisanto Moreira da Rocha, competente orador da província:

-Ladrões!

A praça, apinhada de gente, levou o maior susto.

-Ladrões! Ladrões, porque você roubaram meu coração.

Cabralzinho voltou para Campina Grande, candidatou-se a vereador. No primeiro comício, lembrou-se de Sobral e do golpe de oratória do deputado, fechou a cara, e olhou para os ouvintes com ar furioso:

-Ladrões!

Ninguém se mexeu. Cabralzinho sabia que a política em Campina Grande era briga de foice no escuro. Queria o impacto total.

-Cambada de ladrões!

Foi uma loucura. A multidão avançou sobre o palanque. Pedra, pau, sapatos. O rosto sangrando, acuado, encolhido lá no anto, Cabralzinho implorava:

-Espera que eu explico! Espera que eu explico!

Explicou. Ao médico, no hospital.




JOSÉ MARIA ALKMIN

MINAS GERAIS - O eleitor chegou aflito:

-Doutor Alkmim, meu filho nasceu, es estava desprevenido, não tenho dinheiro para pagar o hospital!

-Meu caro, se você, que sabia há nove meses, estava desprevenido, calcule eu que soube agora.




LAGUNA (SC)



SANTA CATARINA - Padre Rossi era Deus e o diabo em Laguna, Santa Catarina. Vigário, cuidava das almas. Chefe político, cuidava dos corpos. A cidade tinha os pés plantados em suas mãos. O que padre Rossi queria, acontecia. Nunca ninguém ousou contrariar aquele que mandava qualquer um para o céu ou para a cadeia.

Noite de Ano Novo, Padre Rossi estava chegando de viagem. Tinha missa à meia-noite, já estava atrasado. E a lagoa Imaruí, encapelada, soprava vento sul. Mas Padre Rossi não tinha medo de nada. Pegou a canoa, mandou tocar.

O pescador foi indo, foi indo, remando. E o vento sul dobrando a canoa, como palha ao vento. Padre Rossi olhou Laguna lá do outro lado, desistiu:

-Volta.

-Voltar como, Padre? E a missa de Ano Novo?

-Volta que eu não vou morrer por uma missa.

-Deus é grande, Padre Rossi.

-Eu sei, Deus é grande, mas a canoa é muito pequena.





ETELVINO LINS


PERNAMBUCO - Etelvino Lins tomou posse no governo, logo no dia seguinte recebeu a visita de um tio do interior, que queria abraçar o sobrinho glorioso. O velho o encontrou meio desconfiado, sentou no sofá largo, começou a conversar.

Mas tinha uma bronquite de abade, tossia sem parar. Um secretário do palácio apanhou uma escarradeira toda desenhada em azul e pôs discretamente ao lado. O velho tossiu, cuspiu no canto, no chão. O empregado puxou a escarradeira mais para perto. O velho empurrou como pé.

-Tervino, tira essa loucinha pintada daqui, senão eu acabou cuspindo dentro.




PORFÍRIO DA PAZ


SÃO PAULO - Porfírio da Paz, chefe da torcida organizada do São Paulo Futebol Clube, inaugurou no Brasil o faturamento político do futebol. Conseguiu levar Leônidas do Rio para lá e virou herói popular, de prestígio e voto. Foi vice-prefeito, vice-governador. E teve com o presidente Café Filho um diálogo famoso, depois atribuído a Laudo Natel. Na verdade foi ele , quando assumiu o governo paulista por alguns dias, durante viagem de Jânio, e veio ao Rio: Como vai São Paulo, governador?

-Como vai São Paulo, governador?

-Vai mal, presidente. Perdeu o último jogo.

-Não é o time não, governador. É o Estado que eu pergunto.

-Ah, o estádio? Ainda não ficou pronto, mas vamos terminar.

-Refiro-me ao Estado de São Paulo, governador. Como está indo?

-Ah, sim, presidente. Agora entendi. Não leio esse jornal. A seção esportiva é muito fraca.



CARLOS LACERDA (GB)


GUANABARA – Clemens Sampaio estava na tribuna:

- Segundo Adam Smith, a lei do mercado...

- Um aparte, senhor deputado?

- Pois não, nobre líder Carlos Lacerda.

- V. Excia. Cometeu um equívoco. A tese da lei do mercado não é não é de Adam Smith, mas do famoso economista inglês Window.

- Ilustre líder Carlos Lacerda, agradeço o aparte de V. Excia. De fato, cometi um equívoco. A tese da lei do mercado não é mesmo de Adam Smith, mas do renomado economista britânico Window. É com emoção que ouço V. Excia. Ilustrar meu discurso.

- Senhor deputado, vejo agora confirmado o que só sabia por informação. V. Excia. Não entende mesmo coisa alguma de tudo isso que está falando aí. Window não é economista inglês nem de país nenhum. “Window” é apenas “janela” em inglês.  




BELÉM (PA)


PARÁ – Deputado no Rio, João Botelho passou muito tempo sem ir a Belém. Quando foi, encontrou na rua o filho de um grande amigo:

- E o velho? Ainda não tive tempo de abraçá-lo.

- Papai faleceu, deputado.

Desculpou-se como pôde, a vida absorvente do Congresso, a longa ausência da terra:

- Aceite minhas condolências, extensivas a todos os seus.

Dias depois, volta a encontrar-se com o rapaz:

- E o velho?

- Eu já lhe disse, deputado. O papai faleceu.

- Ah, foi mesmo. Esta minha cabeça! Mas nunca é demais renovar a expressão do meu pesar.

E deu-lhe um longo abraço. Semanas depois, novo encontro. Foi começando:

E o velho?

Mas emendou logo:

- O velho sempre morto, não é? Sempre morto.




SENADOR ARNON DE MELO (AL)


ALAGOAS – O senador Arnon de Melo mandou chamar o cabo eleitoral:

- O que é que houve? Eu soube que você matou fulano?

- Matei, doutor. Está me dando uma doença. Não posso mais ouvir ninguém falar mentira. Vai me dando uma tosse, uma tosse. Só para quando mato o sujeito.

Um dia, o senador foi fazer comício na cidade do cabo eleitoral que não podia ouvir mentira:

- Meus amigos, eu juro que vou multiplicar os votos de você em benefícios para esta terra, como Cristo multiplicou os peixes nas montanhas da Terra Santa. Naquele dia, na Jureia, o Cristo alimentou uma multidão com dois peixes.

Lá embaixo do palanque, o cabo eleitoral que não podia ouvir mentira começou a tossir desesperadamente. O senador ficou aflito e consertou logo:

- Quer dizer, eram dois peixes enormes, duas baleias imensas...





TANCREDO NEVES


MINAS GERAIS – Geraldo Rezende, editor político de “O Diário”, sábio e santo, conversava com Tancredo Neves no final da campanha para o governo de Minas Gerais em 1960, contra Magalhães Pinto.

- Tancredo, você precisa ter fé. Dê uma passada no santuário de São Geraldo, em Curvelo, que São Geraldo não esquece seus devotos.

Tancredo foi lá. E perdeu as eleições para Magalhães. Telegrafou a Geraldo:

- Geraldo, São Geraldo esquece seus devotos.

Meses depois, Jânio renuncia, assume Jango, Tancredo é primeiro-ministro. Geraldo telegrafa a Tancredo:

- Tancredo, São Geraldo não esquece seus devotos.












-


















































74 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page